terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A "Revolução de Janeiro" ou a "Revolta Cidadã", que expulsou Salvador Rodrigues da Prefeitura de Imperatriz completa 16 anos


A chamada "Revolução de Janeiro" ou a "Revolta Cidadã", nomes dado por alguns ao movimento que liderado pelo Fórum da Sociedade Civil provocou uma intervenção estadual no município de Imperatriz em janeiro de 1995,completa hoje  16 anos.

Prefeitura de Imperatriz tomada pelo povo
Dia 18 de janeiro de 1995, liderado pelos seus representantes dos diversos segmentos sociais da cidade que se juntaram no Fórum da Sociedade Civil, o povo de Imperatriz de maneira inédita foi às ruas em grande passeata e depois ocupou a prefeitura e a Câmara, numa atitude contra o desmando administrativo que a cidade estava vivendo naquele momento, desde que há pouco mais de 1 ano antes havia sido assassinado o prefeito Renato Moreira e em seu lugar assumira o seu vice Salvador Rodrigues de Almeida.


16 anos depois, que lição nós tiramos desse fato histórico? Desavenças pessoais ou política partidária á parte entre alguns que se dispõe a analisar o movimento, devemos considerar que foi nos últimos anos um fato histórico inédito, de forte participação popular e de unidade da sociedade civil organizada. 

Analistas também criticam o movimento pelo fato de algumas das lideranças do Fórum, logo em seguida à nomeação do interventor, terem aceitados cargos na nova administração, sendo que alguns desses se revelaram de certa forma oportunistas de primeira linha, cedendo aos encantos do interventor que sorrateiramente fez de tudo para cooptar essas lideranças e finalmente desarticular a entidade. 


Louvemos nesse caso a bravura e a honradez do líder do movimento, o presidente do Fórum da Sociedade Civil, advogado Ulisses Azevedo Braga, que não aceitou nenhum cargo e depois de lutar por algum tempo para ver concretizados os demais objetivos do Fórum, saiu de Imperatriz e retornou à sua cidade natal, Carolina, onde até hoje vive, aos 80 anos, uma espécie de  auto- exílio.

Mesmo com esses desacertos e depois a conseqüente desmobilização do Fórum, o movimento tem o seu valor histórico e de lição do poder popular, do exercício da cidadania.

16 anos depois, o que mudou? 

Seriam necessárias páginas e mais páginas para analisarmos tudo que a cidade viveu e as idas e vindas do povo de Imperatriz em busca de uma cidade melhor. Mesmo que atabalhoadamente ou de maneira inconsciente, o povo busca sempre uma melhoria.

Sob esse prisma, da vontade da nossa gente valorosa e trabalhadora, temos muito a comemorar, mas administrativa e politicamente - apesar dos esforços  do atual governante - ainda há muito o que se caminhar, não dar para soltar fogos de artifício. Houve avnaços e recuos.

Os ideais do movimento de Janeiro não foram ainda alcançados, mas
aos trancos e barrancos, discriminada pelos governos sarneisistas que se limitaram à ponte do Estreito dos Mosquitos em São Luís, a cidade avançou, governos se sucederam e até a oposição mais á esquerda teve as rédeas dos destinos administrativos dos imperatrizenses. 

A esquerda se perdeu nas delícias do poder e o povo desesperançado resolveu novamente entregar o comando da cidade para o PMDB. Finalmente, desiludido com o PMDB,  em 2008, o povo  entregou o governo para um líder que há muito tentava, mas não havia tido ainda a chance de governar Imperatriz, o médico Sebastião Madeira (PSDB).

Mas até chegar aqui, desordenadamente, a anomia tomou conta de Imperatriz. O desejo da cidade, do espaço público, foi substituído pelo desejo do efêmero e, efêmeros também são os valores e a cultura urbanos. Sem vontade política, a preservação de sua imagem e do que é coletivo,  a cidade foi reduzida a discursos políticos esquecidos logo após os comícios nas eleições dos seus governantes.

Quebra-molas, meio-fios, muros e pilares de viadutos pintados, a maquiagem caprichada agrada a quem passa apressado, sem tempo para perguntar: de quem é a cidade? Turistas e estrangeiros,  somos mendigos em seu próprio lugar, sem a mínima consciência de que se não adotarmos posturas de pertencimento estaremos cada vez mais distante do território urbano racionalmente desejável. Progresso ou decadência? Não é esta a questão do jogo.

Como qualquer cidade, Imperatriz é resultado de transformações de valores, modelos econômicos, decisões políticas e de um pensamento político autoritário que fez criminosamente uso de todas as possibilidades de domínio.

A vida urbana de Imperatriz até aqui tem escancarado o nosso esvaziamento cultural. "A praça é do povo", é o verso do poeta que ninguém as vezes escuta. Mas a cidade pertence a todos. As ruas não são simplesmente caminhos que levam a algum lugar, mas um lugar de encontro com o desejo, com o outro, o medo, o prazer, a incerteza, as aventuras da vida. A experiência do andar nas ruas e praças tem que ser enriquecedora.

O futuro de Imperatriz é agora um desafio e uma preocupação, pois as ameaças já não são mais previsões de visionários românticos e nostálgicos.

Que imagem de Imperatriz queremos que  sobreviva  para o futuro? Será a imagem dos governantes atropelando a história, esquecendo fatos e referências, enterrando rios, ou da nossa juventude drogada, atolada no Crak, se matando sob os olhos passivos de autoridades?
 
A esperança se renova

A democracia se desenvolve de acordo com o ritmo de dois movimentos: os governos devem construir poder e a oposição deve suscitar alternativas.

O vazio de confiança que até hoje atraiu os imperatrizenses para o despenhadeiro se deve à acumulação de erros históricos, entre eles a implacável instabilidade dos governos e à debilidade de uma sociedade civil que não chega a representar-se continuamente, exemplo disso, foi o esvaziamento e a desmobilização do Fórum da Sociedade Civil, logo após a intervenção. 

A cidade vive um momento diferente, com estabilidade política-administrativa, um prefeito correto e diuturnamente empenhado, não há nem de longe a nescessidade de uma organização para o confronto e o expurgo de governantes, como fizemos com Salvador Rodrigues, mas a sociedade precisa estar organizada, consciente e participativa. Madeira é o prefeito, teve o crédito de quase 60 por cento dos imperatrizenses, mas todos, indistintamente, somos responsáveis por nossa cidade. 

É preciso atitudes cidadãs ,que não devem apenas serem exercidas somente para a cobrança de nossos direitos, mas também para o cumprimento de nossos deveres. As calçadas tomadas por material de construção, o lixo jogado nas ruas e nos riachos nos cobram uma mudança de postura. Ainda é normal - ninguém reclama - um caçambeiro sair derramando areia no meio da rua.

A cidade onde moramos, por escolha ou por contingências da vida nômade proletária, é bem mais que  um local de trabalho e de consumo. Se viemos de fora, nossos filhos nasceram aqui e podemos, sim, sem ufanismo bairrista, gostar da cidade. E, de fato, nosso trabalho e nossa maneira de viver podem contribuir para melhorar ainda mais a vida dessa comunidade, desigual como outras, promissora como poucas.

Disso se trata, em suma, de recuperar a dignidade. É uma tarefa por si só difícil, pois a arte da construção política caminha de maneira mais lenta que a da contestação social. Esta última é tributária das mobilizações sociais, que surgem dos interesses afetados, como foi a "Revolução de Janeiro." Ao contrário, exigem uma tenacidade mais firme para aproximar posições e superar a tentação de monopolizar a verdade e a virtude.
 
Apesar dos muitos problemas  Imperatriz respira os ares do crescimento,  novas empresas, novos empreendimentos, novas esperanças, mas se não buscarmos exercer uma consciência cidadã entraremos depois numa selva de pedra.

No mundo inteiro o exercício da cidadania é  uma arte que antecipa um estilo de governo atento ao valor do consenso sobre determinadas políticas públicas. A confrontação ou o individualismo não resolveu estes problemas e eles aí estão para maiores dados, as igualdades que não crescem e a violência social que não decresce. Estas são as capas da descrença coletiva que devemos atravessar.

Que a Revolução de Janeiro ou Revolta Cidadã, seja sempre lembrada como um grande passo da cidadania, pois apesar dos desacertos que vieram depois,  trouxe  mudanças de conceitos e costumes. O movimento popular de 18 de Janeiro de 1995 será sempre inspirador, na certeza de que a cidadania política deve ser exercida 24 horas por dia, nos pequenos atos, na rotina do cotidiano. Não apenas quando a cidade está ameaçada ou os nossos direitos estão sendo negados, mas também na consciencia de pagar os nossos impostos, zelar pelo meio ambiente, colaborar com nosso vizinho, ser fraterno,  sempre sabedores  de que fazemos parte de uma grande  comunidade, uma grande família chamada Imperatriz.


Fotos - Brawny Meirelles: 2 - Fórum da Sociedade Civil reunido no Rotary Clube / 3 - Ulisses Braga (camisa azul) acompanhado por este Jornalista, Francisco Araújo, Itamar Fernandes e outros integrantes do movimento se dirigindo até a Câmara de vereadores, naquele momento já também ocupada /  4 - Passeata desce a Av. Getúlio Vargas, rumo a Prefeitura /  5- Lideres do movimento posam para foto no gabinete do  prefeito/ 6 - Populares na frente do prédio da Prefeitura, observados por homens da PM.

8 comentários:

Anônimo disse...

Mas se o Madeira não pegar uma patrola e sair acertando a buraqueira nas ruas da periferia, acabará sendo apedrejado em praça pública. É simplesmente inacreditável a situação da Av. Rio Solimões Sanara que dá acesso ao Bairro Cafeteira. Aliás, dava acesso, porque hoje literalmente não dá mais, está intrafegável e não é um problema que uma simples patrola não conserte.

Anônimo disse...

Só ele for mágico, a cidade é grande e os problemas não serão resolvidos por nehum prefeito em apenas dois anos. Vocês construiram suas casas dentro da lama e agora ficam se reclamando. Só tem um jeito, pagar o IPTU e esperar. Eu confio que esse prefeito ai ainda vai arrumar a maioria das ruas de Imperatriz.Vamos confiar rapaz! (Mauro Cortez Viana)

Anônimo disse...

Parabens jornalista, só você mesmo para fazer esse registro. por falar em Reveolução de janeiro, o que foi feito do Dr. Ulisse Braga? (Luis Epaminondas Carvalho Silveira)

Laércio Castro disse...

Parabéns, ao amigo blogeiro e jornalista, Josué Moura, pelo post. Devemos continuar conscientizando e defendendo o Direito do Cidadão se Revoltar. É o mínimo que a maioria pode fazer.

Anônimo disse...

Valeu Josué.
Seu registro é de grande importancia. Parabéns.
Copiei suas fotos, mas se eu usar colocarei seus créditos.
]abraço
Joao Rodrigues

Anônimo disse...

Vc foi uma peça fudamental neste movimento de janeiro. parabéns!
(Francisco Cavalcante - Tailândia-PA)

Anônimo disse...

Josué, muito bom o texto e a iniciativa de trazer à lembrança esse fato histórico da maior importância para a cidade e seus habitantes.
Você não falou nada sobre a organização daquele evento de que me falou. Como estão as coisas?
Estou na Argentina, retorno dia 26 deste.

Graça Carvalho - Juíza aposentada.

Anônimo disse...

Valeu companheiro.Foi muito importante sua iniciativa.