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terça-feira, 3 de janeiro de 2017

JUIZ É AMEAÇADO DE MORTE

Juiz de Direito é admirado no meio jurídico e recebeu inúmeras mensagens de apoio

Ontem, 2, a rebelião sangrenta no presídio em Manaus que terminou com a morte de 56 presos teve mais um capítulo que preocupou juristas e ativistas ligados aos direitos humanos. Isso porque o Blog do Fausto Macedo, do jornal Estadão, veiculou uma matéria que indicava a “ligação” do magistrado Luís Carlos Valois, que participou das negociações pelo fim da rebelião, com a facção “Família do Norte” (FDN), responsável pelas mortes. Agora, o magistrado – que foi ouvido por 20 minutos e não teve uma frase sequer publicada – está sofrendo ameaças da facção rival, o PCC (Primeiro Comando da Capital).


A notícia requenta uma acusação sofrida pelo magistrado em junho do último ano, quando ele foi alvo da operação “La Muralla”, que investigou a influência da facção FDN. Valois foi citado em uma conversa entre cliente e advogado sobre de um suposto afastamento dele da Vara de Execuções Penais de Manaus, cuja principal delegação é analisar os pedidos de progressão de pena, saídas temporárias e demais questões de encarcerados e encarceradas. Na ligação, o preso faz um apelo para que Valois fosse mantido, pois, caso contrário, a vida deles ficaria muito mais difícil.

Ao requentar a notícia, os jornalistas ligaram para o magistrado, o qual disse que a ligação não trazia qualquer prova de conduta dele; que só foi ao presídio por um pedido pessoal do Secretário de Segurança Pública, mas por conta da matéria estava agora sob ameaças do PCC.

A jornalista do The Intercept Cecília Oliveira resumiu em suas redes sociais a falha jornalística do Estadão, que acabou colocando a vida do magistrado em risco – “Os repórteres do Estadão ligaram para o Luís Carlos Valois, falaram com ele 20 min, mas escolheram não publicar UMA PALAVRA do que ele disse, isso, numa “matéria” que o acusa de ter envolvimento com a Família do Norte. O excelente resultado disso é que agora ele está sendo ameaçado pelo PCC. Parabéns Estadão”, ironizou.

Juiz de Direito é admirado no meio jurídico e recebeu inúmeras mensagens de apoio

O juiz amazonense é reconhecido no meio jurídico como uma das mais importantes vozes contra a guerra às drogas e dedicou sua vida acadêmica sobre o assunto – no último ano, inclusive, concluiu sua tese de Doutorado sobre o tema na Universidade de São Paulo (USP). Além disso, Valois tem o reconhecimento jurídico e popular por sua atuação humanizada junto aos presos e sua família, ao ouvir a todos e todas com respeito e cordialidade.

“Luís Carlos Valois honra a toga que veste. Coragem, destemor, conhecimento, compaixão são algumas das inúmeras qualidades deste grande homem, que podemos chamar sem nenhum medo de Excelência. Na boa, a maioria das autoridades jurídicas do nosso país não conseguem honrar o próprio nome que carregam” – afirmou o Delegado de Polícia e Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense, Orlando Zaccone.

“Luís Carlos Valois é um dos poucos juízes brasileiros que tem autoridade moral para negociar com presos, justamente por que enxerga neles o ‘humano’ que todos deveriam ver. Paga um preço elevado por isso” – afirmou o Promotor de Justiça e Professor da Universidade Federal da Bahia, Elmir Duclerc.

Já o Juiz de Direito em São Paulo e Colunista do Justificando, Marcelo Semer, afirma que o maior risco da profissão não está nos presos, mas sim em uma imprensa sensacionalista – É preciso ter coragem pra ser juiz. E infelizmente o maior risco hoje não está nos presos. Está na imprensa leviana e sensacionalista”. (Carta Capital).

Veja o desabafo do juiz em sua página, no Facebook:

Sobre a covardia do Estadão. Ontem, depois de passar doze horas na rebelião mais sangrenta da história do Brasil, um repórter, dito correspondente desse jornal me liga. Eu digo que estou cansado, sem dormir a noite toda, mas paro para atende-lo por vinte minutos. Algumas horas depois sai a matéria: “Juiz chamado para negociar rebelião é suspeito de ligação com facção no Amazonas”. O Estadão é grande, eu sou pequeno, um simples funcionário público do norte do país. Eles não publicaram nada do que falei, nem, primeiramente, o fato de que eu não era o único a negociar a rebelião. Desenterraram uma investigação contra mim da Polícia Federal em que esta escuta advogados falando o meu nome para presos, sem qualquer prova de conduta minha. Detalhe, todos os presos das escutas estão presos, nunca soltei ninguém. Mas insinuaram que isso tinha algo a ver com o fato de eu ter ido falar com os presos na rebelião, que sequer eram os mesmos da escuta. Fui porque tinha reféns. Estamos no recesso, eu não estou no plantão, fui porque havia reféns, dez reféns, mas isso eles não falaram também. Fui chamado pelo próprio Secretario de Segurança do Amazonas que, não por coincidência, é um dos delegados da Polícia Federal mais respeitados do Estado. Ele, o delegado, veio me buscar em casa, me cedeu um colete a prova de balas, e fomos para a penitenciária. O secretário de administração penitenciária, egresso igualmente da PF também estava lá aguardando. Tudo que fiz, negociei e ajudei a salvar dez funcionários do Estado, reféns dos presos, fiz sob orientação dos policiais. Tudo isso falei para o tal Estadão, mas foi indiferente para eles. Agora recebo ameaças de morte da suposta outra facção, por causa da matéria covardemente escrita, sem sequer citar o que falei. Covardes. Estadão covarde, para quem não basta “bandido morto”, juiz morto também é indiferente