Ao completar um ano do golpe que derrubou o governdor do Maranhão Jackson Lago e ao mesmo tempo também cem anos do nascimento do grande estadista Tancredo de Almeida Neves, o deputado federal Roberto Rocha (PSDB-MA) escreveu o artigo "Como água e óleo", que traça um paradoxo entre Sarney e Tancredo e mostra o descompasso do Maranhão na caminhada do país rumo á sua democracia plena. Confira a seguir:
Como água e óleo
Completou um ano o golpe que feriu de morte a soberania popular do Maranhão. A cassação do governador Jackson Lago, a página mais infeliz da nossa história contemporânea, coincidiu com a data de aniversário de Tancredo Neves, cujo centenário de nascimento se celebra este ano.
As vicissitudes da política reuniram no mesmo drama as figuras de Tancredo e Sarney, este destinado a ser o fiador do poder militar na transição democrática do país. As reverências que a Nação presta hoje ao ilustre político mineiro ressaltam, por todos os contrastes, o inglório ocaso do político maranhense.
Louva-se em Tancredo a trajetória política marcada por princípios, dentre os quais o absoluto respeito ao ideário democrático. Era um "construtor de pontes", nas palavras de seu neto e herdeiro político, o governador Aécio Neves.
Toda a sua história foi moldada pela busca de ampliação dos espaços de diálogo e participação popular, na crença de que o valor maior é a liberdade. Por isso Tancredo passou tanto tempo na oposição, pregando idéias, combatendo lealmente, mas intransigentemente em defesa da democracia. Contraste absoluto, como água e óleo, com a biografia do senador pelo Amapá.
Sobre Tancredo, o senador Heráclito Fortes afirmou que “ele não construiu oligarquias. Não governou com curriolas. Governou com estilo, com sabedoria e, acima de tudo, com princípios”. Ao lado de Fortes, presidindo as homenagens prestadas no último dia 03 no Congresso Nacional, estava o velho oligarca, o patrono das curriolas, o paladino da eterna submissão ao poder sem princípios.
Foi feliz o governador José Serra ao destacar que o grande legado de Tancredo, expresso com os ideais da Nova República, foi a conquista da alternância tranqüila de poder, que no passado provocava a radicalização da sociedade brasileira. E festejou o fato de que “a alternância passou a fazer parte das conquistas adquiridas: já ninguém mais contesta a legitimidade das vitórias eleitorais e do natural desejo dos adversários vitoriosos de governar sem perturbações”, afirmou de cabeça erguida, para um cabisbaixo presidente do Senado.
Triunfo nacional, conquista da cidadania, persiste apenas no nosso Maranhão o velho modelo de dominação que não consente o diálogo, a renovação de quadros, a sadia disputa política. Foi esse o preço que nosso Estado pagou e ainda paga pela tragédia oligárquica, feita de descompromisso, descaso e insensibilidade.
Pontuou ainda o governador Serra que um dos frutos mais benéficos da alternância de poder no país foi a possibilidade de ascensão do Partido dos Trabalhadores, que acabou tornando-se beneficiário das conquistas sociais e culturais da nova Constituição que muitas vezes o próprio PT combatera.
E concluiu que “o Brasil de hoje tem a cara e o espírito dos fundadores da Nova República: senso de equilíbrio e proporção; moderação construtiva na edificação de novo pacto social e político; apego à democracia, à liberdade e
à tolerância; paixão infatigável pela promoção dos pobres e excluídos, pela eliminação da pobreza e pela redução das desigualdades”. Faltou apenas completar com a ressalva, “à exceção do pacto reservatti dominii, o pacto de reserva de domínio das terras do Maranhão".
Tenho dito que esta questão, a cassação do mandato popular outorgado a Jackson Lago, transcende a todos nós, inclusive ao próprio outorgado. Está claro que quando o Senador Sarney, com seus ocultismos, anula em seu favor a vontade da maioria, mais do que um malefício político a seus adversários, ele está em verdade cometendo um crime à democracia, um vilipêndio à República, um escárnio com as instituições basilares das sociedades civilizadas.
Um comentário:
Parabéns deputado!
Um bom artigo, oportuno e esclarecedor nesse momento de trevas em que atravessa o Maranhão. (Luiz Gouveia - Chapadinha-MA)
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