quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Líbia pós-Kadafi: correspondente do Estadão diz que problema não acaba com a morte do ditador

Correspondente do Estadão na Líbia, o jornalista Andrei Netto avalia que a morte do ex-chefe de Estado Muamar Kadafi, que ficou 42 anos no poder, não basta para a condução do país de volta à democracia. O profissional considera que o assassinato do ditador foi um erro cometido pela equipe de transição, apesar de notar que, para os opositores, a presença dele seria uma eterna ameaça.
Netto diz que o ideal seria ver o ex-ditador respondendo pelos atos que cometeu durante as décadas em que esteve à frente da política e economia da nação africana. “Seria preferível, por todas as razões do mundo, que Kadafi fosse detido, julgado e condenado por seus crimes. Seria um exemplo para a sociedade líbia, um sinal de que os tempos mudaram e que a lei impera daqui para a frente do país. Sua morte, a meu ver, foi uma oportunidade perdida”.
Sem a possibilidade de acompanhar o ex-ditador ser responsabilizado pelos crimes que cometeu, como violação dos direitos humanos, conforme relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU), o jornalista do Estadão afirma ter muitas dúvidas em relação ao futuro democrático da Líbia. Ele não sabe como o novo governo conseguirá unificar as minorias étnicas, políticas e religiosas que vivem na Líbia, além de temer que o país não consiga unificar e agradar, ao mesmo tempo, as principais cidades.
Apesar de pontuar os problemas que a Líbia pode enfrentar na fase pós-Kadafi, o correspondente tem a esperança de que tudo se resolverá de forma rápida e consolidada. Netto aposta na juventude líbia, que, segundo analisa, tem ligação muito forte com os costumes ocidentais, rejeitando os regimes ditatoriais.
Momento da morte de Kadafi
Único jornalista na Líbia a cobrir para um veículo de comunicação do Brasil a nova conduta política da Líbia e a procura dos rebeldes e do conselho de transição por Kadafi, o jornalista de O Estado de S. Paulo noticiou ao vivo, no dia 20 deste mês pela rádio Estadão-ESPN, a morte do ditador. Sem medo de errar a informação, uma vez que estava na capital Trípoli e o ditador foi assassinado em Sirte, Netto confirma que o tempo que está no país contribuiu para o relacionamento e confiança mútua com as fontes.

Primeiro a informar a morte de Kadafi por meio da mídia brasileira, Netto não nega ter ficado satisfeito com a “exclusividade” da informação transmitida no rádio. Quando o assunto é informar em tempo real, ele diz não se intimidar com o meio de comunicação – impresso, visual, auditivo -, apesar de contratado pelo jornal, ele salienta que o mais importante é ter certeza da veracidade do fato e informá-lo assim que puder e do jeito que der. “Não poderia esperar até o dia seguinte para publicá-la no jornal. Entrar ao vivo na Estadão-ESPN foi o caminho natural”, comenta sobre a morte do ditador.

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