segunda-feira, 16 de julho de 2012

IMPERATRIZ 160 ANOS. E AGORA?


Como qualquer cidade, Imperatriz é resultado de transformações de valores, modelos econômicos, decisões políticas e de um pensamento político autoritário no passado que fez criminosamente uso de todas as possibilidades de domínio.

Mas, a cidade onde moramos, por escolha ou por contingências da vida nômade proletária, é bem mais que um local de trabalho e de consumo. Se viemos de fora, nossos filhos nasceram aqui e podemos, sim, sem ufanismo bairrista, gostar da cidade. E, de fato, nosso trabalho e nossa maneira de viver podem contribuir para melhorar ainda mais a vida dessa comunidade, desigual como outras, promissora como poucas.

Disso se trata, em suma, de recuperar a dignidade. É uma tarefa por si só difícil, pois a arte da construção política caminha de maneira mais lenta que a da contestação social. Esta última é tributária das mobilizações sociais, que surgem dos interesses afetados, como foi o movimento de janeiro de 1995, ou a "Revolução de Janeiro" como foi denominada por alguns. Ao contrário, exigem uma tenacidade mais firme para aproximar posições e superar a tentação de monopolizar a verdade e a virtude.

Apesar dos muitos problemas no entanto, Imperatriz respira os ares do crescimento, novas empresas, novos empreendimentos, novas esperanças, mas se não buscarmos exercer uma consciência cidadã entraremos depois numa selva de pedra. O futuro de Imperatriz é agora um desafio e uma preocupação, pois as ameaças já não são mais previsões de visionários românticos e nostálgicos.

Devemos refletir: A vida urbana de Imperatriz até aqui tem escancarado o nosso esvaziamento cultural. "A praça é do povo", é o verso do poeta que ninguém às vezes escuta. Mas a cidade pertence a todos. As ruas não são simplesmente caminhos que levam a algum lugar, mas um lugar de encontro com o desejo, com o outro, o medo, o prazer, a incerteza, as aventuras da vida. A experiência do andar nas ruas e praças tem que ser enriquecedora.

Que imagem de Imperatriz queremos que sobreviva para o futuro? Será a imagem dos governantes atropelando a história, esquecendo fatos e referências, de pessoas aterrando rios, ou da nossa juventude drogada, atolada no Crak, se matando sob os olhos passivos de autoridades?

O desejo da cidade, do espaço público, foi substituído pelo desejo do efêmero e, efêmeros também são os valores e a cultura urbanos. Sem vontade política, a preservação de sua imagem e do que é coletivo, a cidade foi reduzida a discursos políticos esquecidos logo após os comícios nas eleições dos seus governantes.

Quebra-molas, meio-fios, muros e pilares de viadutos pintados, a maquiagem caprichada agrada a quem passa apressado, sem tempo para perguntar: de quem é a cidade? Turistas e estrangeiros, somos mendigos em seu próprio lugar, sem a mínima consciência de que se não adotarmos posturas de pertencimento estaremos cada vez mais distante do território urbano racionalmente desejável. Progresso ou decadência? Não é esta a questão do jogo.

No mundo inteiro o exercício da cidadania é uma arte que antecipa um estilo de governo atento ao valor do consenso sobre determinadas políticas públicas. A confrontação ou o individualismo não resolveu estes problemas e eles aí estão para maiores dados, as igualdades que não crescem e a violência social que não decresce. Estas são as capas da descrença coletiva que devemos atravessar.

A democracia se desenvolve de acordo com o ritmo de dois movimentos: os governos devem construir poder e a oposição deve suscitar alternativas.

O vazio de confiança que no passado atraiu os imperatrizenses para o despenhadeiro se deve à acumulação de erros históricos, entre eles a implacável instabilidade dos governos e à debilidade de uma sociedade civil que não chega a representar-se continuamente, exemplo disso, foi o esvaziamento e a desmobilização do Fórum da Sociedade Civil, logo após a intervenção.

A cidade vive um momento diferente, com estabilidade político-administrativa, um prefeito correto e diuturnamente empenhado, mas a sociedade precisa estar organizada, consciente e participativa. Todos, indistintamente, somos responsáveis por nossa cidade.

É preciso atitudes cidadãs, que não devem apenas serem exercidas somente para a cobrança de nossos direitos, mas também para o cumprimento de nossos deveres. As calçadas tomadas por material de construção, o lixo jogado nas ruas e nos riachos nos cobram uma mudança de postura. Ainda é normal - ninguém reclama - um caçambeiro sair derramando areia no meio da rua.

Devemos exercer nossa cidadania não apenas quando a cidade está ameaçada ou os nossos direitos estão sendo negados, mas também na consciência de pagar os nossos impostos, zelar pelo meio ambiente, colaborar com nosso vizinho, sermos  fraternos, sempre sabedores de que fazemos parte de uma grande comunidade, uma grande família chamada Imperatriz.

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