Novas apurações sobre o assassinato de Décio Sá serão pedidas pelo promotor Luís Carlos Duarte
‘Bolinha’
falou com exclusividade ao Jornal Pequeno de sua cela no 8º DP, da Liberdade; ele
pode ser incluído num Programa de Proteção a Testemunhas Reviravolta
é resultado de pedido de ‘Júnior Bolinha’ – acusado de intermediação no
crime – para ser ouvido novamente pela Justiça
POR OSWALDO VIVIANI
O
promotor Luís Carlos Corrêa Duarte, que atua no caso do assassinato do
jornalista Décio Sá – ocorrido em abril de 2012, em São Luís –,
confirmou ao Jornal Pequeno que um grande empreiteiro do Maranhão será
investigado por participação no crime, como um dos mandantes. Outras
pessoas – que até agora não apareceram no inquérito policial – também
serão investigadas. Elas integrariam um “consórcio”, formado para mandar
executar o jornalista.
“Ninguém deixará de ser investigado por
conta de seu poder econômico, político ou situação social”, disse Luís
Carlos Duarte, na sexta-feira (5) ao JP. O promotor afirmou ainda que
vai pedir a entrada do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) no
caso, já que o suposto “consórcio” também teria a intenção de mandar
assassinar um promotor de Justiça – Fernando Barreto (Meio Ambiente),
apurou o JP.
Décio Sá postou ao menos uma dezena de matérias em
seu blog sobre irregularidades ambientais em projetos de empreiteiras no
Maranhão.
Bolinha quer falar tudo – O empreiteiro será ouvido
após um dos principais denunciados pelo crime – acusado de intermediação
–, José Raimundo Sales Chaves Júnior, o “Júnior Bolinha”, 39 anos, ser
reinquirido.
“Bolinha”
já prestou depoimento à Justiça, durante as audiências de instrução do
“caso Décio”, no início de junho passado, mas em entrevista exclusiva ao
JP, há cerca de duas semanas – feita numa cela do 8º Distrito Policial,
no bairro da Liberdade, onde está preso há mais de um ano –, o acusado
disse que não falou tudo o que sabia, devido à orientação de seu então
advogado, Armando Serejo, e porque o juiz Márcio Castro Brandão, que
presidiu as audiências, não aceitou seu pedido de se reunir de forma
privada com o magistrado e o promotor Luís Carlos Duarte. Logo após as
audiências, “Bolinha” mudou de advogado.
Bilhete e carta – “Júnior
Bolinha” formalizou a solicitação de uma nova oitiva à Justiça na
quinta-feira (4). O pedido, destinado ao juiz auxiliar Hélio de Araújo
Carvalho Filho – que respondia provisoriamente pela 1ª Vara do Tribunal
do Júri, mas cuja titularidade já mudou para o juiz José Costa –, é
assinado pelo novo advogado do acusado, Bruno Milton Sousa Batista, de
Teresina (PI).
Ao pedido foi juntado um bilhete à Justiça, escrito
de próprio punho por “Bolinha” há aproximadamente três meses, mas que
chega às mãos do destinatário só agora. Nele, “Bolinha” revela saber os
nomes dos mandantes tanto da morte de Décio Sá como do negociante de
carros Fábio Brasil (assassinado em 31 de março de 2012, no centro de
Teresina). Veja os termos do bilhete:
“As informações que eu tenho
servirão para esclarecer o caso [assassinato de Décio Sá] de uma vez
por todas. Eu nada tenho com a história, com os crimes [que vitimaram
Décio Sá e Fábio Brasil], mas sei de tudo, especialmente os nomes das
pessoas que de fato queriam as duas mortes, os intermediários e os
mandantes.
Sei do restaurante, o local do encontro, assisti as
conversas, e os que delas participaram sabem muito bem que me fizeram de
bode expiatório de uma trama que atinge diretamente pessoas que ainda
não foram atingidas pelas investigações.
Todos os detalhes, com as
provas, estão guardados em vários locais, para minha segurança. Estou
concluindo o dossiê que mostra quem são os mandantes e intermediários
dos crimes, que indevidamente me envolveram.
Sou temente a Deus e
na Justiça dos homens. Confio que os fatos que relatarei mostram a
verdade e serão suficientes para me tirar do lugar onde não mereço
estar”.
Além do bilhete, “Júnior Bolinha” escreveu uma carta,
enviada ao secretário Aluísio Mendes (Segurança Pública), em 20 de
fevereiro deste ano. Na carta, “Bolinha” menciona o nome do empreiteiro
que ele acusa de ser um dos mandantes do assassinato de Décio Sá, e cita
o dono de cadeia de lojas de Teresina quando fala da trama que resultou
na morte de Fábio Brasil.
Bolinha também revela na carta o local
onde o assassinato de Décio Sá teria sido tramado: o sofisticado
restaurante Grand Cru, localizado no bairro do Olho d’Água, em São Luís.
O JP tentou falar ontem (6), por telefone, com o secretário Aluísio
Mendes, sobre o que a polícia fez, em relação às informações contidas na
carta, mas o secretário não atendeu as ligações.
A carta enviada a
Aluísio Mendes foi encaminhada pelo advogado Adriano Cunha ao promotor
João Mendes Benigno Filho, de Teresina, para ser juntada ao processo
sobre o “caso Fábio Brasil”, que corre no Piauí. Cunha representa
Gláucio Alencar Pontes Carvalho e José de Alencar Miranda Carvalho –
ambos presos no quartel da Polícia Militar do Maranhão (PM-MA), acusados
pela polícia de ter mandado matar tanto Décio como Fábio.
Ao JP,
“Júnior Bolinha” afirmou, na entrevista de duas semanas atrás, que nunca
recebeu nenhuma resposta formal do secretário sobre suas acusações. “Só
recebi da polícia uma ameaça velada de ser transferido para um presídio
federal em outro estado, caso insistisse com o assunto”, disse
“Bolinha”.
O acusado admitiu, ainda, ao JP, que esteve na reunião
no Grand Cru, mas que não aceitou participar da trama do assassinato do
jornalista Décio Sá.
Logo após falar ao JP, segundo informou o
advogado Breno Milton, “Bolinha” recebeu a visita de três delegados –
Maimone Barros Lima, Roberto Mauro Larrat e Guilherme Sousa Filho –, que
souberam que o acusado havia falado com a imprensa e o teriam
repreendido por isso.
‘Bolinha’ – que disse ao JP temer por sua
segurança – pode ser incluído no programa federal de proteção a
testemunhas, segundo o promotor Luís Carlos Corrêa Duarte.
Dos 13 acusados pela polícia de envolvimento no crime, só 7 estão presos
O
jornalista Décio Sá, que trabalhava na editoria de política do jornal O
Estado do Maranhão – integrante do Grupo Mirante, da família Sarney –,
foi assassinado com seis tiros (cinco deles fatais) de pistola ponto 40,
no dia 23 de abril do ano passado, no bar e restaurante Estrela do Mar,
um estabelecimento à beira-mar, na Avenida Litorânea, em São Luís. O
crime repercutiu nacional e internacionalmente.
Em 13 de junho, ao
fim de mais de 50 dias de investigações – em que foram ouvidas cerca de
60 pessoas, a polícia maranhense desencadeou a operação “Detonando” e
deu o “caso Décio” como elucidado. O homicídio teria sido encomendado
por R$ 100 mil.
Sete acusados de envolvimento foram presos, indiciados pela polícia e denunciados à Justiça pelo Ministério Público. São eles:
O
assassino confesso do jornalista, o paraense de Xinguara Jhonathan de
Sousa Silva, de 24 anos, já transferido de São Luís, onde foi preso,
para um presídio federal, em Campo Grande, no MS;
Gláucio Alencar
Pontes Carvalho, 35 (empresário, acusado também por prática de
agiotagem; hoje preso no Quartel do Comando da PM, no Calhau);
José de Alencar Miranda Carvalho, 73 (pai de Gláucio; também acusado por agiotagem; está preso com o filho no Calhau);
José
Raimundo Sales Chaves Júnior, o “Júnior Bolinha”, 39 (negociante de
máquinas agrícolas e representante comercial de bebidas em Santa Inês
(MA); teria feito o papel de intermediador entre o assassino, Jhonathan
de Sousa, e os mandantes do crime; está preso no 8º Distrito Policial,
na Liberdade, em São Luís);
Fábio Aurélio do Lago e Silva, o
“Buchecha”, 32 (trabalhava para Júnior Bolinha; segundo a polícia,
ajudou na operacionalização do assassinato de Décio Sá; preso no Quartel
do Comando da PM, na mesma cela em que estão Gláucio Alencar e seu pai,
Miranda).
Fábio Aurélio Saraiva Silva, o “Fábio Capita”, 37
(capitão da PM-MA; era subcomandante do Batalhão de Choque da
corporação; para a polícia, foi ele quem forneceu a “Júnior Bolinha” –
de quem é amigo de infância – a pistola ponto 40 usada por Jhonathan de
Sousa para executar Décio Sá; a acusação nunca foi comprovada; ficou
preso quase um ano no quartel do Corpo de Bombeiros, no Bacanga (São
Luís), mas foi libertado no fim de maio, após obter dois habeas corpus,
um da Justiça do Maranhão, outro do Piauí);
Marcos Bruno da Silva
Oliveira, 28, o “Amaral” ou “Negão” (foi preso em 7 de novembro do ano
passado; segundo a polícia, ele foi o verdadeiro “piloto de fuga” de
Jhonathan de Sousa, mas, conforme o próprio pistoleiro, esse papel teria
sido cumprido por Elker Farias Veloso, o “Diego”, 26, preso no Presídio
Nelson Hungria, em Contagem (Minas Gerais) pela prática de outros
crimes; Marcos Bruno está preso em local não revelado).
Duas pessoas envolvidas no crime ainda estão foragidas:
Shirliano
Graciano de Oliveira, o “Balão”, 27 (cunhado de Marcos Bruno; teria
ajudado na operacionalização do assassinato de Décio Sá);
Marcos
Antônio de Sousa Santos, o “Neguinho Barrão” (foi indiciado pela
polícia, mas o MP não aceitou fazer denúncia contra ele, por falta de
qualificação completa; paraense, teria apresentado o executor do crime,
Jhonathan de Sousa, ao suposto intermediador, “Júnior Bolinha”).
Também
foram indiciadas pela polícia e denunciadas pelo Ministério Público,
por envolvimento no assassinato de Décio Sá, as seguintes pessoas, que
não foram presas:
Os investigadores da Superintendência Estadual
de Investigações Criminais (Seic) Alcides Nunes da Silva e Joel Durans
Medeiros (dariam suporte informal aos suspeitos de agiotagem Gláucio
Alencar e José de Alencar Miranda);
Ronaldo Henrique Santos
Ribeiro (ex-advogado de Gláucio Alencar; também era amigo do jornalista
assassinado; apontado pela polícia como “braço jurídico” de agiotas que
atuam em várias prefeituras do Maranhão).
Em um ano, 6 juízes já foram titulares de Vara responsável pelo caso
As
audiências na Justiça sobre o “caso Décio” ocorreram em maio e junho
deste ano, sob a presidência do juiz Márcio Castro Brandão, que já não
está mais à frente da 1ª Vara do Tribunal do Júri, onde o caso é
julgado.
Em pouco mais de um ano, seis magistrados já responderam
pela 1ª Vara do Tribunal do Júri: Alice de Sousa Rocha, Ariane Mendes
Castro Pinheiro, Márcio Castro Brandão, Maria Izabel Padilha, Hélio de
Araújo Carvalho Filho e José Costa (que deverá cumprir a titularidade
por um curto espaço de tempo, segundo ele mesmo informou).
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