Informações da Colossus dão conta
que a parceria entre a canadense Colossus e a Coomigasp em Serra Pelada
vai produzir 1.000.000 de onças de ouro (cada onça equivale a 31,1
gramas) ao longo dos onze anos previstos de produção. Se confirmada a
expectativa, o sonho de bamburrar dos garimpeiros vai por água abaixo,
já que caberia pouco mais de R$140,00 mensais ao longo de onze anos a
cada um dos 38.000 garimpeiros hoje associados a Coomigasp.
No final de 1979 a filha de um
vaqueiro da Fazenda Três Barras, localizada no então município de
Marabá, no sudeste do Pará trouxe algumas pedras junto da água que
buscara em um córrego da fazenda. Aristeu, um funcionário da fazenda que
já havia trabalhado em um garimpo em Cumarú do Norte reconheceu,
encrostada em uma das pequenas pedras, uma “risca” de ouro. Precavido,
Aristeu nada disse aos demais funcionários. Todavia, visitou o local pra
ver se encontrava algo mais consistente.
No fim semana seguinte, Genésio
Ferreira da Silva, dono da fazenda, chegou ao local e foi comunicado por
Aristeu das suspeitas de que havia uma boa quantidade de ouro no local
que o garimpeiro chamou de Grota Rica. Os dois, em uma única tarde,
munidos apenas de um prato esmaltado e uma picareta tiraram do pequeno
córrego nada menos que 79 gramas de ouro puro.
A notícia de ouro brotando no pé da
Grota Rica correu o país. Garimpeiros ávidos pelo metal precioso
migraram de todos os cantos do país para a região. Em abril de 1980,
apenas quatro meses após o anúncio da descoberta de ouro, cerca de dez
mil garimpeiros já estavam no local que passou a ser chamado de Serra
Pelada e que receberia, em dezembro daquele ano, o impressionante número
de cento e vinte mil garimpeiros circulando de dentro para fora da cava
em movimentos tão sincronizados como se um grupo de balé fosse.
Em 1981 os garimpeiros foram
registrados pelo Receita Federal e o garimpo sofreu uma intervenção
comandada pelo militar Sebastião Rodrigues de Moura, o major Curió. Todo
o ouro ali descoberto teria que ser vendido para a Caixa Econômica
Federal.
Em setembro de 1983, Lindolfo de
Brito achou em Serra pelada a maior pepita já registrada no Brasil, com
62,3 quilos. O lugar fervilhava a ponto do aeroporto local receber cerca
de 30 viagens de monomotores diárias – na época, o movimento de táxi
aéreo superava o do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Serra
Pelada se tornara o maior garimpo a céu aberto do mundo.
Nasceu Curionópolis, um pequeno
vilarejo à margem da PA-275 usado para a diversão dos garimpeiros de
Serra Pelada, já que no garimpo eram proibidas a entrada de mulheres,
drogas, armas e álcool.
Como não havia mais ouro na
superfície, os garimpeiros cavavam um buraco, que era drenado todos os
dias e a procura pelo ouro de Serra Pelado foi ficando mais perigosa.
Para levar o minério até o riacho onde era lavado, os garimpeiros subiam
e desciam escadas moldadas no barro ou improvisadas com madeiras. Cada
saca pesava 35 quilos: em um dia, um “formiga” carregava 1,7 tonelada de
barro. Em julho de 1983, dezenove pessoas morreram em um deslizamento
de terra.
Algumas fortunas foram feitas em
Serra Pelada. Tantas outras retornaram e se perderam como investimentos
para dentro do buraco, que em 1984 já tinha mais de 200 metros de
profundidade e hoje é uma grande lagoa que serve apenas para que os
antigos garimpeiros que ainda vivem na Vila de Serra Pelada voltem a
sonhar em vê-lo novamente produzindo.
O garimpo, a cada dia, se tornava
menos lucrativo para o garimpeiro e para o Estado. Mas, apesar de todos
esses fatores, os garimpeiros continuavam trabalhando dia e noite na
esperança de “bamburrar” – expressão relacionada ao fato de enriquecer.
O garimpo foi interditado por
diversas vezes devido a desmoronamentos e quebra das dragas que sugavam a
água do fundo do enorme buraco. Numa dessas paralisações, em 1984,
garimpeiros revoltados por não serem atendidos em obras de rebaixamento
do garimpo que supostamente viabilizariam o reinício da lavra, invadiram
Parauapebas e queimaram parte do Núcleo Urbano recém criado pela Vale.
Houve uma tentativa de invadir a
mina de ferro em Carajás. Autoridades estiveram sob a mira de
garimpeiros por diversas horas. Após intensas negociações, os reféns
foram libertados e os garimpeiros voltaram para Serra Pelada, onde
aguardariam o início das obras, que jamais aconteceram. Serra Pelada
permaneceu desativada.
Vários outros conflitos foram
produzidos por garimpeiros e a PM do Pará. Num deles, o garimpeiro João
Edson Borges foi espancado e morto por um policial. Em reação, um
policial foi morto e a Polícia Militar acabou expulsa de Serra Pelada.
Em
dezembro de 1987, um conflito que ficou conhecido como Massacre de São
Bonifácio ou Guerra da Ponte aconteceu em Marabá, quando garimpeiros
interditaram a Ponte sobre o Rio Tocantins usada pela Vale para escoar o
minério de ferro até São Luis-MA.
O então governador Hélio Gueiros
mandou desobstruir a ponte e quinhentos soldados do 4º batalhão da
Polícia Militar do Pará encurralaram os garimpeiros e avançaram por uma
das cabeceiras da ponte, atirando na multidão, enquanto o Exército
fechava o acesso na outra cabeceira. Há relatos de que os policiais
atiraram durante 15 minutos com metralhadoras e fuzis. Muitos
garimpeiros se jogaram do vão de 76 metros da ponte. Dezenas de
garimpeiros foram feridos e/ou mortos.
Em 1992, Fernando Collor, presidente
do Brasil, decretou o fechamento definitivo do garimpo e devolveu o
direito de lavra para a então Cia Vale do Rio Doce, hoje Mineradora
Vale, não há notícias de que a Vale devolvera o pagamento recebido pela
indenização em 1984.
De forma oficial, cerca de quarenta toneladas de ouro foram extraídas em Serra Pelada.
Mesmo com o fechamento do garimpo
cerca de seis mil pessoas teimaram em aguardar a reabertura do mesmo na
Vila de Serra Pelada. Entre uma migalha de ouro e outra resgatada das
montoeiras deixadas pela garimpo, tais garimpeiros foram sobrevivendo.
No dia 11 de setembro de 2002, o
Senado Federal aprovou a devolução aos garimpeiros o direito de lavra de
100 hectares — parte dos 10 mil hectares em mãos da Companhia Vale do
Rio Verde. Em 2007 o Ministério das Minas e Energia negociou com a
mineradora que cedeu 700 hectares da área à Cooperativa de Mineração dos
Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp) para exploração mineral.
De posse da área, a direção da
Coomigasp foi em busca de um parceiro que viabilizasse a lavra. Nesse
sentido foi criada, sob o aval do então ministro das Minas e Energia,
Edson Lobão, a SPCDM – Serra Pelada Companhia de Desenvolvimento
Mineral, resultado da sociedade e entre a Colossus Mineração Ltda,
empresa multinacional do grupo canadense Colossus Minerals Inc., e a
Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp).
No início, essa parceria previa a
divisão dos investimentos e dos lucros na ordem de 51% para a Colossus e
49% para a Coomigasp. Posteriormente, em Assembleia Geral promovida
pela Coomigasp, foi aprovado novo um contrato onde a Colossus faria todo
o investimento necessário para que se chegasse a produção do ouro e em
troca a Cooperativa cederia mais 24% do projeto para a mineradora,
ficando com 25% do ouro produzido. A parte que caberia à Coomigasp seria
distribuída aos garimpeiros devidamente cadastrados e regulares.
Paralelamente ao início do projeto, a
diretoria da Coomigasp vinha recebendo recursos mensais da Colossus
para sua manutenção. Ninguém da Colossus ou da Coomigasp sabe dizer se
tais recursos estavam previstos no contrato inicial e se a somatória
deles serão descontados dos valores a serem repassados à Coomigasp
quando o projeto estiver em fase de produção.
O uso desses recursos levou à uma
eterna briga entre “facções” dentro da Cooperativa pela posse da chave
do cofre da mesma. No meio dessa disputa várias ações trabalhistas e
cíveis foram impetradas contra a Coomigasp, que hoje é um poço de
dívidas.
A justiça do Pará afastou o então
presidente Jessé Simão e posteriormente decretou a intervenção na
Coomigasp e nomeou Marcos Alexandre Mendes interventor para apurar
supostos erros, recadastrar associados e acompanhar a evolução do
projeto.
A Colossus, meio que alheia a toda
essa briga, continuava a implantação do projeto, já que havia investido
cerca de R$30 milhões em pesquisas no local antes mesmo da assinatura do
contrato. Divulga-se que o investimento total da Colossus no projeto
Serra Pelada é da ordem de R$500 milhões. A Colossus jamais disse de
forma oficial quanto ouro e outros minerais ainda há em Serra Pelada e
qual a expectativa de produção.
O silêncio da mineradora criou uma
expectativa perigosa aos 38 mil associados da Coomigasp. Há relatos do
comércio ilegal de direitos na Coomigasp entre associados e
especuladores, que acreditam em um grande faturamento e um lucro enorme,
já que corre amiúde que em Serra Pelada haveria centenas de milhares de
toneladas de ouro
Há alguns meses, durante o evento
denominado Anuário Mineral, alguns autoridades estiveram em Serra Pelada
a convite da SPCDM para a inauguração do sistema elétrico do projeto.
Durante o evento, em reunião que contou com a presença, entre outros, do
deputado Raimundo Santos – PEN-PA (presidente da Comissão de Mineração
da Alepa); de Wenderson Chamon (prefeito de Curionópolis); Cláudio
Mancuso (CEO da Colossus); Rosana Entler (diretora da Colossus); José
Fernando Gomes Jr. (presidente do Simineral);
Armando Pingarilho (gerente de
relações institucionais da Colossus); Alberto Arias (investidor);
Divaldo Salvador de Souza (empresário); e vários garimpeiros da
Coomigasp, foi cobrado da Colossus uma posição sobre a expectativa do
quantitativo de produção do projeto. Houve certa relutância por parte da
mineradora, todavia, após vários questionamentos, foi informado que a
expectativa da Colossus é de uma produção de 1.000.000 Oz (hum milhão de
onças) de ouro, que seriam aproximadamente 31 mil quilos de ouro
durante os 11 anos previstos pelo projeto.
Essa informação deveria ter sido
expandida aos garimpeiros imediatamente para que essa expectativa de que
com o início da produção milhares de associados da Coomigasp teriam,
finalmente, realizados os seus sonhos de bamburrarem, já que segundo a
informação da Colossus, ao preço de hoje, cada um dos 38.000 garimpeiros
associados à Coomigasp receberá apenas R$18.619,07 (dezoito mil,
seiscentos e dezenove reais e sete centavos) ou R$1.692,64 (hum mil,
seiscentos e noventa e dois reais e sessenta e quatro centavos) por ano,
ou R$141,05 (cento e quarenta e um reais e cinco centavos) por mês
durante os 11 anos previstos para o projeto, isto se não forem
descontados os custos de produção, o que é normal nestes contratos.
1.000.000 Oz (previsão da Colossus) x
R$2,830,10 ( valor atual da onça de ouro) = R$2.830.100,000,00
25% desse valor (que caberá a Coomigasp) = R$707.525.000,00
Dividido por 11 anos (previsão do Projeto) = R$64.320.454,54
Dividido por 12 meses (ano) = R$5.360.037,87
Dividido por 38.000 (número de associados) = R$141,05 por garimpeiro, sem considerar os custos de produção
Apesar de todas as antigas direções
da Coomigasp terem vendido aos associados o sonho de que em Serra Pelada
existem ainda centenas de milhares de toneladas de ouro, a realidade é
outra, e é preciso que agora, munidos dessa informação oficial, as
autoridades busquem algumas alternativas que possam dar sequencia ao
projeto. Uma delas deverá ser um rigoroso recenseamento dos associados,
já previsto no Termo de Ajustamento de Conduta assinado pelo interventor
quando de sua nomeação. (Blog do Zé Dudu)
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