O GLOBO - Chico Góis, de Brasília, com edição do Blog Marrapá.
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| Pereirinha é o presidente da Câmara de São Luís. |
Uma investigação conduzida pela Polícia
Civil do Maranhão apura o que pode ser um dos maiores esquemas de
agiotagem no estado. O delegado responsável pelo inquérito, Augusto
Barros, estima que as irregularidades na concessão de empréstimos podem
ter movimentado cerca de R$ 30 milhões e envolvem pelo menos 14
vereadores da Câmara Municipal de São Luís. O número de políticos
envolvidos, porém, pode subir e abranger até deputados estaduais.
O esquema estaria na ativa há anos.
Segundo as investigações, funcionaria da seguinte forma: vereadores
pediam empréstimos consignados a uma funcionária do Bradesco, banco que
tem a conta oficial da Câmara Municipal. Para tanto, apresentavam nomes
de funcionários do Legislativo. O dinheiro seria repassado para esses
laranjas, mas eles não precisavam pagar. Os próprios vereadores se
encarregavam de fazer os repasses para quitar os empréstimos.
No entanto, como a taxa de juros cobrada
nos consignados é muito baixa, cerca de 2%, os vereadores aproveitavam o
dinheiro barato para emprestar para terceiros, cobrando taxas muito
maiores, de aproximadamente 7%. A diferença era o lucro do grupo.
Entre os suspeitos de integrar a
quadrilha estão Isaías Pereirinha (PSL), que preside a Câmara Municipal
de São Luís pela quinta vez, e seu vice, Astro de Ogum (PMN), amigo do
senador José Sarney (PMDB-AP). Em artigo publicado recentemente no
jornal da família, Sarney, um reconhecido supersticioso, agradeceu ao
poder espiritual do vereador.
No início da semana passada, o juiz
titular da 7ª Vara Criminal de São Luís, Fernando Luiz Mendes Cruz,
decretou a prisão da ex-gerente do Bradesco Raimunda Célia Moraes da
Silva Abreu, que está foragida. Raimunda seria a principal operadora do
esquema, segundo a Polícia Civil.
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A ex-gerente é considerada peça-chave
para esclarecer a participação de cada um dos investigados. O advogado
dela, José Cavalcante de Alencar Júnior, entrou com um habeas corpus
para tentar livrá-la da prisão, mas, até sexta-feira, a Justiça não
havia decidido sobre o pedido. O GLOBO entrou em contato com o
escritório do advogado, mas a secretária informou que ele estava doente e
não poderia atender.
— O esquema tem um potencial bombástico —
disse o delegado Augusto Barros, que disse ao GLOBO que, apesar de os
indícios apontarem para a participação de 14 vereadores, a investigação
se estende sobre todos os 31 parlamentares da Câmara Municipal.
Há dois meses, Barros pediu a quebra de
sigilo bancário de 13 pessoas, mas a Justiça do Maranhão ainda não se
manifestou sobre o requerimento. Ele espera ter acesso aos dados
bancários para fazer cruzamentos e identificar quem mais participaria do
esquema.
O delegado afirmou que a agiotagem no
Maranhão é um dos principais crimes, que gera até mortes. O jornalista
Décio Sá, que mantinha um blog no qual atacava políticos e empresários,
teria sido assassinado a mando de agiotas, em 2012. Em abril deste ano, a
polícia prendeu quem acredita ser o mandante do assassinato: Gláucio
Alencar, apontado como um dos maiores agiotas do estado.
— Foi a partir da investigação da morte
do jornalista que evoluímos e chegamos a essa quadrilha que atua na
Câmara de São Luís — afirmou o delegado Barros.
O GLOBO telefonou quatro vezes para a
Câmara Municipal de São Luís para falar com o presidente e o vice da
Casa, mas não foi atendido em nenhuma dessas ocasiões. O Bradesco
informou apenas: “A senhora Raimunda não faz mais parte do quadro de
funcionários do banco. O Bradesco esclarece que está acompanhando o
assunto e não deve se pronunciar enquanto as denúncias não tiverem sido
esclarecidas pelos órgãos competentes, por envolver questões que
envolvem sigilo bancário”.

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