O mundo gira, as mudanças acontecem em todos os lugares, mas no Maranhão parece que a mentalidade de se resolver tudo na base da ameaça e do terror, continua em voga. Eliminar fisicamente aqueles que ousam questionar ou denunciar a exploração humana, é dessa forma que tentam calar mais uma voz contra o arbítrio no Maranhão.
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Padre Marcos Bassani (à direita), com este jornalista |
Desta feita trata-se de um religioso, o padre missionário italiano Marcos Bassani, que reside no povoado de Alto Brasil e presta serviços à Diocese de Grajaú-MA. Bassani, segundo denunciou, foi intimidado com tom de ameaça em sua própria residência após denunciar o trabalho escravo na região em sua coluna no blog Grajaú de Fato. O trabalho escravo é prática criminosa e violadora dos Direitos Humanos, comum no Estado do Maranhão, sobretudo em fazendas.
Padre Marcos é missionário no Estado do Maranhão desde 2002, quando chegou ao Brasil para assumir a paróquia de Dom Pedro e a quase paróquia de São José dos Basílios. Nessas localidades, também prestou relevante serviço social em defesa dos marginalizados e oprimidos pelo poder político oligárquico da região e em prol da redução das desigualdades sociais.
Em sua missão profética, o missionário sempre denunciou as situações de desrespeito à dignidade da pessoa humana, que, aliás, é fundamento da República Federativa do Brasil e princípio fundamental universal, que deve ser resguardado, promovido e defendido por qualquer pessoa.
O padre explica que não teve intenção de caluniar ou difamar ninguém, mas apenas denunciar essa prática atroz, criminosa e mediévica que ceifa vidas e desconstrói sonhos e esperanças de pessoas que vendem sua força de trabalho para conseguir melhores condições de vida para si e para a família. Embora a denúncia no blog tenha sido ilustrada com um caso emblemático, não pretendeu desconstruir reputação de ninguém, nem tampouco imputar fato criminoso a alguém de maneira irresponsável.
Por sentir-se amedrontado com a ameaça que recebeu em sua residência, e reiterada em outro ponto do povoado, registrou Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e espera que tudo se resolva o mais rápido possível da melhor forma. (Informações repassadas por Ronyere Lima)
Veja a denuncia de Marcos Bassani que está lhe causando risco de vida:
Trabalho escravo, ainda existe?
O que nos deve inquietar é outra pergunta: por que um rapaz de quinze anos estava trabalhando em condições análogas as de escravo, de segunda a segunda, numa fazenda tão conhecida, bem perto da cidade de Grajaú?
Padre Marcos Bassani |
Apesar que o assunto deste título foi o tema da Campanha da Fraternidade de 2014 e de ter sido tocado pelo Papa, qual problema mundial, apesar disso, nós temos, na nossa realidade de Grajaú, pessoas até devotas, mas que têm a coragem de levantar este questionamento: “Será que existe mesmo o trabalho escravo ou super explorado? Não será uma jogada dos trabalhadores que não querem mais trabalhar e só buscam expedientes para ganhar às custas de seus empregadores?”. Basta lembrar que, durante a Quaresma, umas destas pessoas tentaram desmoralizar o trabalho das Pastorais Sociais de Grajaú, porque tinham citado casos de trabalho escravo numa grande fazenda da região.
Mas, no limiar deste Ano Pastoral, dedicado ao combate ao trabalho escravo, exatamente no território do nosso Município, um adolescente foi morto envenenado, enquanto trabalhava em condições super exploradas no Parque Gauchão. Aqui não queremos nem entrar na discussão sobre as causas do envenenamento, até que não tivermos um laudo definitivo e credível.
O que nos deve inquietar é outra pergunta: por que um rapaz de 16 anos estava trabalhando em condições análogas as de escravo, de segunda a segunda, numa fazenda tão conhecida, bem perto da cidade de Grajaú? Esta é a pergunta que coloco para mim e para você leitor deste artigo.
A primeira resposta é muito fácil: porque na nossa região, como no Maranhão todo, isso não incomoda, não inquieta, e sim é considerado quase normal; até uma forma de sustentação da família. Contudo seria gravíssimo jogar toda a culpa em cima da família, porque deixou ele trabalhar nestas condições; isso está acontecendo, mas não é a minha leitura do problema, porque só Deus pode julgar as condições de vida da família da vítima. De qualquer maneira se reduzirmos o problema a este julgamento sobre a família, estaríamos só confirmando o preconceito, segundo o qual o pobre e o negro sempre tem culpas e é causa de seus males. Que pena quando os pobres não sabem se unir e se crucificam uns aos outros!
Na verdade, seja que sejamos discípulos de Jesus, ou simples cidadãos brasileiros, a nossa indignação e a nossa revolta deve ter outro enfoque. Ou seja, por que não nos revoltamos ao saber que uma família, tão rica e abastada, mantem seu status social explorando o trabalho humano? Quantos casos assim temos dentro da nossa realidade? Mas, infelizmente, tudo isso virou normalidade. Assim como virou normalidade, seja para o povo, que não se revolta, seja para o SAAE, que não toma providências, virou normalidade, que o seu Pedro Gaúcho continue puxando a água do povoado Remanso, para abastecer seu gado, enquanto as pontas de rua do mesmo povoado têm água quando der. Realmente, como escreveu um sociólogo, no Maranhão o gado tem muito mais direitos que a maistas me parece que sejam as verdadeiras perguntas, que devemos nos pôr, invés de cair na retórica de frases consolatórias e alienantes.
Como o Profeta bíblico não nos resta mais do que gritar: “Até quando Senhor, teremos que ver tudo isso?”. Por que, perante uma morte tão injusta e prematura, não houve nenhuma reação da sociedade civil de Grajaú e de Remanso, pedindo às autoridades competentes, que fiscalizem e punam este tipo de crime? Enfim, por que na sexta potência econômica do Planeta, ainda, uma família precisa do trabalho do filho adolescente para se manter?
O que nos deve inquietar é outra pergunta: por que um rapaz de quinze anos estava trabalhando em condições análogas as de escravo, de segunda a segunda, numa fazenda tão conhecida, bem perto da cidade de Grajaú?
Padre Marcos Bassani |
Apesar que o assunto deste título foi o tema da Campanha da Fraternidade de 2014 e de ter sido tocado pelo Papa, qual problema mundial, apesar disso, nós temos, na nossa realidade de Grajaú, pessoas até devotas, mas que têm a coragem de levantar este questionamento: “Será que existe mesmo o trabalho escravo ou super explorado? Não será uma jogada dos trabalhadores que não querem mais trabalhar e só buscam expedientes para ganhar às custas de seus empregadores?”. Basta lembrar que, durante a Quaresma, umas destas pessoas tentaram desmoralizar o trabalho das Pastorais Sociais de Grajaú, porque tinham citado casos de trabalho escravo numa grande fazenda da região.
Mas, no limiar deste Ano Pastoral, dedicado ao combate ao trabalho escravo, exatamente no território do nosso Município, um adolescente foi morto envenenado, enquanto trabalhava em condições super exploradas no Parque Gauchão. Aqui não queremos nem entrar na discussão sobre as causas do envenenamento, até que não tivermos um laudo definitivo e credível.
O que nos deve inquietar é outra pergunta: por que um rapaz de 16 anos estava trabalhando em condições análogas as de escravo, de segunda a segunda, numa fazenda tão conhecida, bem perto da cidade de Grajaú? Esta é a pergunta que coloco para mim e para você leitor deste artigo.
A primeira resposta é muito fácil: porque na nossa região, como no Maranhão todo, isso não incomoda, não inquieta, e sim é considerado quase normal; até uma forma de sustentação da família. Contudo seria gravíssimo jogar toda a culpa em cima da família, porque deixou ele trabalhar nestas condições; isso está acontecendo, mas não é a minha leitura do problema, porque só Deus pode julgar as condições de vida da família da vítima. De qualquer maneira se reduzirmos o problema a este julgamento sobre a família, estaríamos só confirmando o preconceito, segundo o qual o pobre e o negro sempre tem culpas e é causa de seus males. Que pena quando os pobres não sabem se unir e se crucificam uns aos outros!
Na verdade, seja que sejamos discípulos de Jesus, ou simples cidadãos brasileiros, a nossa indignação e a nossa revolta deve ter outro enfoque. Ou seja, por que não nos revoltamos ao saber que uma família, tão rica e abastada, mantem seu status social explorando o trabalho humano? Quantos casos assim temos dentro da nossa realidade? Mas, infelizmente, tudo isso virou normalidade. Assim como virou normalidade, seja para o povo, que não se revolta, seja para o SAAE, que não toma providências, virou normalidade, que o seu Pedro Gaúcho continue puxando a água do povoado Remanso, para abastecer seu gado, enquanto as pontas de rua do mesmo povoado têm água quando der. Realmente, como escreveu um sociólogo, no Maranhão o gado tem muito mais direitos que a maistas me parece que sejam as verdadeiras perguntas, que devemos nos pôr, invés de cair na retórica de frases consolatórias e alienantes.
Como o Profeta bíblico não nos resta mais do que gritar: “Até quando Senhor, teremos que ver tudo isso?”. Por que, perante uma morte tão injusta e prematura, não houve nenhuma reação da sociedade civil de Grajaú e de Remanso, pedindo às autoridades competentes, que fiscalizem e punam este tipo de crime? Enfim, por que na sexta potência econômica do Planeta, ainda, uma família precisa do trabalho do filho adolescente para se manter?
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