quinta-feira, 24 de setembro de 2015

SUICÍDIO: INFORMAÇÃO NECESSÁRIA OU PURO SENSACIONALISMO?



Com o avanço da internet, redes sociais, temos visto a banalização da morte. As pessoas publicam fotos de gente estraçalhada e até de suicidas enforcados. 

O texto abaixo, da jornalista Vanessa Scalei,  relata muito bem nosso sentimento em realção a essa exploração do sinistro:

O suicídio é um fenômeno complexo que tem atraído os olhares de vários profissionais, como filósofos, sociólogos, médicos, psicólogos há vários séculos. Inclusive o sociólogo francês Albert Camus, em O Mito de Sísifo, afirmou que esta “é a única questão filosófica séria”.

Este é um sério problema de saúde pública, tanto que, segundo dados do Ministério da Saúde, em estados como o Rio Grande do Sul, onde a taxa de suicídios é de 9,8 a cada 100 mil habitantes, o problema pode ser ainda mais grave, pois em algumas faixas etárias pode chegar a 30,2 a cada 100 mil. Outro dado importante dá conta de que o suicídio representa a terceira causa de morte por mortes violentas entre jovens.

De acordo com o código de ética dos jornalistas, esse tipo de notícia deve ser evitada, para não estimular a prática de por fim à própria vida. A publicação só deve acontecer caso a notícia seja de grande interesse público.

Para Carlos Chaparro, doutor em Ciências da Comunicação e professor de Jornalismo da USP, geralmente a notícia de suicídio só e relevante jornalisticamente quando se trata de um fenômeno coletivo, mas há particularidades.

Chaparro cita o exemplo do caso da morte do ex-estudante de jornalismo da USP Fábio Le Senechal Nanni, de 26 anos, que morreu ao se jogar do sexto andar do prédio onde morava. Nanni havia sido condenado a 18 anos de prisão pelo assassinato de um colega de faculdade em 2005.

O caso foi amplamente divulgado pela imprensa paulista, e à época – abril deste ano – levantou discussão entre especialistas em jornalismo e comunicação. “No caso do estudante é notório, ele foi protagonista de uma história, já era notícia antes. O caso não é o suicídio, é o rapaz em questão”, defende o professor.

Da mesma forma, o caso do jovem que foi encontrado morto em Ijuí nesta segunda-feira em um hotel também havia um interesse público por ele estar sendo procurado pela polícia por ser o principal suspeito do assassinato da ex-namorada.

Desta forma, a imprensa séria e comprometida com o interesse de sua comunidade cobre suicídios (ou tentativas de) que causem alguma consequência à sociedade. Quando isso não ocorre, é usual a imprensa omitir os fatos, não apenas na tentativa de impedir novos suicídios, mas para respeitar a individualidade de cada um e, principalmente, a família e amigos do indivíduo que cometeu tal ato.

Se uma pessoa resolve se matar, e isso não causa nenhuma repercussão sobre a sociedade e ela não foi induzida por alguém, trata-se de um ato que diz respeito somente para aquele indivíduo. Ou seja, não é um ato social, não se configura em uma verdadeira notícia, do mesmo modo que não interessa a ninguém com quem determinada pessoa mantém relações sexuais.

Até a Organização Mundial da Saúde (OMS), preocupada com o exagero que certos veículos de comunicação cometem ao noticiar suicídios, principalmente, de famosos, já editou um manual para profissionais da mídia intitulado Prevenção do Suicídio. Este manual pode ser 

Em recente palestra na Unicruz, o jornalista da Zero Hora, Carlos Etchichury, comentou sobre o fato de não se noticiar suicídios, por haver estudos que comprovem que uma notícia sobre suicídio ter influência sobre pessoas propensas a cometer tal ato.

Porém, ele afirmou que é possível tratar de um tema tabu, mas com outros aspectos. E de que forma? Etchichury citou o exemplo de uma série que ele produziu sobre o tema, mas de uma maneira geral, evidenciando dados sobre suicídio no Rio Grande do Sul e trazendo opiniões de psicólogos e psiquiatras. Tudo isso, sem mostrar fotos ou relatar um caso específico.

Mesmo assim, Carlos Etchichury concorda com a lógica de não se publicar suicídios para que assim se evite outros indivíduos tomem isso como estímulo. Quer dizer, noticiar um suicídio específico, que não causa nenhuma consequência à sociedade só para saciar a curiosidade do público nada mais é do que uma forma barata de sensacionalismo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pelo conteudo de auto valor para todos, isso sim deveria ser amplamente divulgado.