segunda-feira, 30 de junho de 2025

A FARRA DO SEGURO DEFESO NO MARANHÃO, ONDE PARECE QUE TEM MAIS PESCADOR DO QUE PEIXES

Maranhão lidera registros de pescadores no Brasil, mas cenário revela desequilíbrios e suspeitas de fraude.

O Maranhão é hoje o campeão nacional de pescadores registrados no Brasil. São cerca de 590 mil pessoas inscritas no Registro Geral da Pesca (RGP) — quase um terço de todos os pescadores do país. Mas quando se olha mais de perto, percebe-se que esses números fazem mais espuma do que peixe.


O estado tem apenas 621 embarcações cadastradas, o que dá uma média de quase mil pescadores por barco. Isso mesmo: mil! Enquanto isso, a produção de pescado em 2022 foi de apenas 50,3 mil toneladas, muito abaixo de estados como Santa Catarina, que produz muito mais com menos da metade dos pescadores registrados e conta com 218 empresas pesqueiras. E o Maranhão? Nenhuma empresa registrada. Nenhuma!


O que explica esse inchaço nos registros? A resposta pode estar no seguro-defeso, um benefício federal pago aos pescadores artesanais no período de proibição da pesca. Em 2024, o governo desembolsou R$ 5,9 bilhões para esse fim — e uma parte generosa foi parar no Maranhão, onde agora pipocam suspeitas de fraudes.


Investigações apontam que colônias e federações de pescadores — que deveriam representar a categoria — atuam como atravessadoras, cobrando taxas e até retendo metade do valor dos benefícios, em muitos casos concedidos de forma irregular.


No centro das investigações está Edson Araújo (PSB), deputado estadual e presidente licenciado da Federação dos Pescadores do Maranhão. De acordo com o Coaf, ele movimentou R$ 5,4 milhões em um único ano, dinheiro oriundo da própria federação. Coincidência?


O governo federal reagiu com novas regras: desde 25 de junho, o pagamento do seguro só é feito com validação por biometria. E agora, as prefeituras também precisam homologar os cadastros. Medidas necessárias, mas que chegam tarde demais para evitar o estrago — e talvez não sejam suficientes para conter um sistema que se alimenta da própria fragilidade institucional.


Enquanto isso, o verdadeiro pescador — aquele que vive da maré, da rede e do suor — continua à margem, ofuscado por um mar de registros duvidosos e esquemas de corrupção. O Maranhão merece mais que números inflados e suspeitas. Merece respeito.

Nenhum comentário: