quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Onde está Élson, o que foi feito dele?

Desaparecimento de garoto em assentamento de Açailândia completa 2 anos

Hoje, quarta-feira, 14 de dezembro de 2011, faz dois anos que está desparecido o garoto Élson, do assentamento Planalto I, uma comunidade rural, onde moram umas quarenta famílias a cerca de setenta quilômetros de Açailândia-MA. 

Filho dos trabalhadores rurais, Chiquinho e Solange, o menino Élson era (ou é, se estiver vivo) portador de deficiência mental e em 2009, quando despareceu tinha nove anos de idade. Na família de quatro irmãos, Élson é o segundo e era uma espécie de mascote de todo Assentamento, pois era um bom menino , gostava de andar, gostava de todo mundo, muito alegre perambulava por todas as casas, quintais, roças...

Quando Élson desapareceu, Solange, Chiquinho, a comunidade toda, crianças, adolescentes, jovens, homens, mulheres, idosos e idosas, e até gente de assentamentos e localidades vizinhas (Novo Oriente, Planalto II, Boa Esperança...) saíram a sua procura. Chegou a ter mais de cem pessoas, “caçando” em cada centímetro do Assentamento e redondezas, verdadeiro mutirão... Na época, tinha uns fornos,  alguns  em rescaldo, até lá procuraram...

A família e a comunidade denunciaram o desaparecimento, mas a  policia, o corpo de bombeiros de Imperatriz, com poucos homens, quase nada de recursos, permaneciam algumas horas e pronto. Líderes comunitários abasteceram a policia e o ministério público, de informações. Apelaram até ao presidente Lula... Então, por meses, o caso esfriou, a família e a comunidade frustaram-se. Amainaram , mas não desistiram...

As suspeitas pelo desparecimento de Elson recairam então sobre uma única pessoa que não gostava do garoto, um homem chamado Adão que detestava Élson pelo fato do menino “invadir” seu quintal e tirar frutas. Segundo vároas  pessoas no Assentamento  Adão é um  homem esquisito,  vivia sozinho com o filho  “de criação”Josemir, não se dava bem com mais da metade dos moradores do lugar.

Outra suspeita sobre Adão era que ele, apesar de exímio caçador e conhecedor da região, em nenhum momento juntamente com seu filho se dignou a ajudar nas buscas.

Segundo contam os moradores, há alguns anos atrás Adão espancara e expulsara a mulher, mãe de seu filho Josemir. Suspeitavam  os moradores que a relação de Adão e Josemir não seria de pai e filho, mas de convivência sexual e dizem que Adão  viera para o Assentamento  “correndo” de um caso de abuso sexual contra uma adolescente. Muitas encrencas envolvendo, e sobretudo causadas por Adão, foram narradas por moradores e moradoras.

O caso se arrastava sem rumo certo, até que um dia o Padre Pedro Carlos, da Paróquia São João Batista, (e hoje de volta à sua Itália,), entrou na história. Depois disso uma filha de Adão escreveu uma carta ao promotor de justiça, denunciando o pai e o irmão de criação Josemir. Ela, mãe de um bebê e grávida do segundo,  são colocados “sob proteção”, pelo Conselho Tutelar e o "falecido" Centro de Direitos Humanos do Estado, depois deixaram Açailândia....

Padre Pedro Carlos e uma meia dúzia de “doidos varridos” conseguem fazer o caso andar: Adão e o filho são presos, por um mês,  soltos, não voltam ao Assentamento, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Açailândia providencia troca de seu lote, ele e o filho vão para o Assentamento Roseli Nunes, município de Bom Jesus das Selvas...

Lá acontece outra desgraça, em janeiro deste ano. Um bebê - menos de  dois anos de idade -, morre justamente num barreiro  da casa  de Adão. Denuncia-se o caso á policia, o delegado regional disse que encaminharia para o delegado de Buriticupu ( e mais tarde notificou-se até ao juiz de direito, que desarquivou o caso que se encontrava arquivado pela policia e pelo ministério público...).

Hoje, Adão já vendeu o lote, o filho Josemir está “junto” com a tia do menino Guilherme, morto no barreiro da casa de Adão...

Élson recebia um beneficio da Previdência Social (INSS), por sua condição de deficiência. A poucos meses,  o beneficio “foi cortado” e devidamente justificado pela autoridade. 

O que não justifica, nem explica, é a falta de respostas das autoridades ao caso Élson: Ele está desaparecido? Como foi que desapareceu? Sozinho? Levado por alguém? Quem? Para onde? Está morto? Foi Adão que o matou? Como? Onde está seu corpo, então? Foi queimado num dos fornos existentes na área? Foi enterrado por Adão, jogado num buracão, que conhecia todos, pois era veterano e antigo carvoeiro e forneiro? Não foi Adão, então quem foi? Onde está Élson, meu Deus, o que foi feito dele?

As “autoridades” deram respostas do tipo: “ a família é que foi culpada, era negligente, não cuidavam direito,  o menino andava por todo lugar... deve ter pego o trem ( a Estrada de Ferro Carajás passa pertinho...)... pegou a estrada e se mandou”...

O “Fantástico”, em janeiro deste ano, pelo repórter Marcelo Rezende, fez uma matéria, curta mas impactante, sobre Élson, entrevistas com a mãe, Solange, com o delegado de polícia, imagens do assentamento, foto do Élson...

Não pode haver nada pior, mais trágico, que o desaparecimento de um filho, é a maior dor do mundo... é um limbo, um suspenso, uma quebra, um vazio “prá sempre”...

 Como pode uma autoridade dizer  aquelas coisas acima, a uma mãe que perde um filho nessas circunstâncias? Acusar de negligência? Pois sim... Tudo isso sem investigar, que seus pais dedicaram anos, perdendo quase tudo de material, acompanhando Élson em suas peregrinações desde o nascimento, em hospitais de Açailândia e Imperatriz?

A família de Élson não vive, sobrevive:  pais,  irmãos, tio,  convictos que perderam o menino, assassinado, o corpo em algum no assentamento ...Esperam por justiça, pelo fim da impunidade... Ousam dizer-lhes que “esperem sentados...”. Pode algo assim...?

Élson está desaparecido   a dois, e a família e a comunidade  vão viver pela terceira vez seguida, um Natal, ou um não-Natal, sem clima para festa, confraternização, foguetório, esbanjamnto, alegrias...

Eles gostariam que o Natal,  a vinda do Menino Jesus, trouxesse, não como presente, mas como justiça, a derradeira verdade sobre  Élson, que não fez mal a ninguém,  só tirava frutas dos quintais para dar aos outros, adorado por todos e todas,  pode ter sido morto por ter sido violentado por Josemir e por ter começado a falar sobre isso, assinou sua sentença de morte, diante de Adão, que encontrou o pretexto final para eliminá-lo...

Elson, menino com deficiência,   está desaparecido desde 14 de dezembro de 2009. Sua breve existência, apenas nove anos, foi marcada por sofrimentos  em hospitais (há uma suspeita que sua deficiência foi adquirida em erro médico, em extinto hospital de Açailândia).

Élson, onde quer que esteja, que Deus tenha misericórdia de ti! E de sua família também! Que ela possa reunir forças  na noite do natal,   num momento de alívio e paz, e regojzar-se com o Menino Jesus que chega! E Ele, creiam, é próprio menino Élson que chega! ( Texto de Eduardo Hirata, com alguns ajustes do blog  Josué Moura).

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