Afirmações normalmente baseadas
em equívocos reforçam a tese de que a
pesquisa política é dispensável
A pesquisa política ainda
enfrenta muitos preconceitos que restringem o seu uso nas campanhas eleitorais.
Certas afirmações se constituem em verdadeiros mitos, nutridos pela ignorância,
e que convergem para a conclusão de que a pesquisa política é dispensável.
O custo de um programa de
pesquisa de boa qualidade, para uma campanha eleitoral de porte médio, fica em
torno de 5 a
10% do seu orçamento
1) "Eu conheço os eleitores não
preciso de pesquisa"
Com exceção de eleições
legislativas municipais, em cidades pequenas, um candidato conhece apenas uma
pequena fração dos eleitores, por mais eleições que tenha disputado. Além
disso, aqueles que ele conhece já são, na sua grande maioria, seus eleitores.
Estas pessoas, portanto, não são uma amostra realista do conjunto do
eleitorado.
A pesquisa, com uma amostra
representativa do eleitorado, extraída por procedimentos estatísticos
aleatórios e probabilísticos, é a única forma de se ter conhecimento confiável
sobre os eleitores.
2) "Não preciso de pesquisa para
dizer-me o que pensar e o que fazer" .
Numa democracia os governantes
são eleitos para governar e também para representar os eleitores. Aliás, esta é
a maneira como os eleitores encaram a eleição. Votam em quem eles acham que vão
representar seus interesses, respeitar seus sentimentos e realizar no governo
os seus objetivos.
É claro que o candidato não se
resume a um "porta voz" dos seus eleitores. *Como líder político*,
ele tem opiniões e convicções que nem sempre vão coincidir com a dos que nele
votaram. Como governante, enfrentará situações complexas e urgentes que exigem
presteza decisória e coragem para assumir as conseqüências das suas decisões,
que muitas vezes serão impopulares.
Se, entretanto, sua candidatura
não estiver alicerçada numa sintonia com os sentimentos e prioridades dos eleitores
dificilmente será eleito. A pesquisa é o instrumento ao seu alcance para saber
o que os eleitores pensam e querem, informação indispensável para estabelecer
aquela sintonia da qual depende sua viabilidade eleitoral.
3) "Pesquisa é muito cara. Prefiro
aplicar este dinheiro em outras áreas"
De todos os "mitos" que
cercam a pesquisa política, este é o que aparece com maior freqüência. É
verdade que uma pesquisa de boa qualidade profissional não é barata. A questão
porém é outra: Ela é necessária, indispensável ou inútil? Se a resposta for
afirmativa então tem que haver recursos para bancá-la. A situação é análoga a
de uma pessoa doente. Pode faltar dinheiro para tudo, só não pode faltar para
pagar o médico e os medicamentos.
Por outro lado, o custo de um
programa de pesquisa de boa qualidade, para uma campanha eleitoral de porte
médio, fica em torno de 5 a
10% do seu orçamento. Considerando os resultados que podem ser obtidos e sua utilidade
para orientar a estratégia e o marketing da campanha, esta é uma despesa
plenamente justificada.
Não basta conhecer o índice
rejeição é preciso conhecer as razões dessa rejeição
4) "Tudo que eu preciso saber é a
minha posição na campanha"
Na realidade, *o candidato
precisa saber muito mais* do que apenas a sua posição na grade de intenção de
votos. As informações sobre intenção de voto e rejeição são importantes e o
candidato pode ter acesso a elas sem despesas, usando as pesquisas realizadas
pelos órgãos de comunicação que cobrem a campanha. Elas são importantes
sobretudo para consolidar apoios e captar recursos.
Estas pesquisas entretanto não
subsidiam a campanha com as informações que necessita para ganhar a eleição.
*Não basta conhecer a intenção de voto e a rejeição é preciso conhecer as
razões da intenção e da rejeição*.
As informações são obtidas identificando
opiniões, atitudes sentimentos e valores do eleitor; testando propostas e
argumentos; comparando pontos fortes e fracos da imagem do candidato e dos adversários.
A pesquisa que a campanha precisa,
portanto, deve ser feita sob medida para aquele candidato, disputando a eleição
contra aqueles adversários, e investigando os sentimentos e interesses daqueles
eleitores. Deve ser construída para produzir informações que permitam conceber
uma estratégia vencedora e uma comunicação eficiente.
5) "Vamos usar o pessoal da campanha
para fazer a pesquisa"
Esta afirmação é um exemplo
emblemático do dito "o barato que sai caro". A pesquisa política não
é em nada diferente da pesquisa científica, adotando os mesmos procedimentos
metodológicos. Extraída a amostra pelos procedimentos estatísticos padrão, a
questão da confiabilidade dos resultados passa a depender da qualidade do
trabalho do entrevistador.
A aplicação correta de um
questionário que mede opiniões, sentimentos e valores, demanda entrevistadores
qualificados, especialmente treinados para fazer a entrevista mantendo a mais
rigorosa neutralidade.
O "pessoal da campanha"
certamente não é o mais indicado para se desincumbir de uma tarefa tão
especializada e tecnicamente tão exigente.
Aqui é oportuno lembrar o
princípio de que é melhor não ter pesquisa nenhuma a ter uma pesquisa mal-feita
e não confiável. (Francisco Ferraz - Política & Plíticos)

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