Primeiro turno não deu respostas para problemas e com dúvidas sobre democracia
Ficou
no passado a esperança de que a eleição seria uma oportunidade de reencontro
com a normalidade após o impeachment e a crise econômica. O segundo turno pode terminar com a escolha de um presidente que representa mais
riscos do que certezas ou com uma polarização que parece fora de controle.
O
peso inédito das redes sociais inaugurou um novo modelo de disputa eleitoral. A
influência modesta da TV reduziu o poder dos grandes partidos e multiplicou o
número de vozes na arena política. Mas esse quadro produziu também um debate
fechado em bolhas e um terreno fértil para discursos de ódio e para a propagação de
mentiras.
Uma
campanha atípica desaguou num cenário fora dos padrões. Os
dois líderes das pesquisas chegaram a índices recordes
de rejeição.
Historicamente, analistas consideravam impossível eleger um candidato com taxa
negativa acima de 30%. Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) estão para
lá de 40%.
Um
candidato precisou fazer campanha do hospital depois de sofrer um grave atentado durante um ato público.
Outro substituiu seu padrinho político, que chegou a ter o apoio de quatro em
cada dez eleitores depois que foi preso por corrupção. Tantas
circunstâncias excepcionais e momentos traumáticos transformaram a disputa mais
importante em décadas numa barulheira. O fato de restarem tantas incertezas
sobre o destino do país em 2019 indica que faltaram mensagens essenciais no
meio de toda a confusão.
É
grave que tenhamos chegado ao primeiro turno sob dúvidas em relação à
democracia. Se a sociedade corre o risco de sair rachada das urnas, a
primeira garantia que deveria ser dada por aqueles que pretendem chegar ao
poder é de respeito ao outro lado. O
líder nas pesquisas alimentou exatamente o contrário.
As
dificuldades econômicas, a
desigualdade e o esfarelamento da política demandam grandeza extraordinária do
próximo governo.
Sem um plano objetivo e sensato, o país continuará brigando à beira do abismo.
Bruno Boghossian
Jornalista, foi repórter da
Sucursal de Brasília.
É mestre em ciência
política pela Universidade Columbia (EUA).
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