Praia permanente no rio Tocantins?
*por Domingos César
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| Jornalista Domingos César |
Não tive
como não achar graça quando li a notícia em O Progresso da última quarta-feira
(28) dando conta que o vereador Hamilton Miranda (PSD) apresentou um
requerimento – e foi aprovado, porém se eu fosse vereador sugeria seu
arquivamento – solicitando ao Consórcio Estreito Energia – CEST a implantação
ou construção no rio Tocantins, de uma praia permanente.
Na sua justificativa (?) o edil
observa que cidades como Palmeirante (TO), Filadélfia (TO), entre outras, o poder
público instalou no rio Tocantins praias artificiais (que não foram geradas
pela natureza), para que essas cidades realizassem seus períodos de veraneio.
Ele só não lembrou a seus pares, que essas cidades estão na montante (acima) da
barragem da hidrelétrica de Estreito.
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| Pres. da Câmara, Hamilton Miranda |
Imperatriz, por sua vez, encontra-se
a jusante (abaixo) da barragem da hidrelétrica, razão porque sofre com a vazão
de milhões de metros cúbicos de água, toda vez que as comportas de hidrelétrica
são abertas. É por isso é que estamos sofrendo a consequência de sermos regidos
agora, não pela Natureza, mas pela decisão dos técnicos da CESTE.
Na minha opinião, o que o vereador
deveria ter feito foi o que fiz. Viajei duas vezes para Estreito, com passagens
compradas com o dinheiro do meu parco salário, com o objetivo de participar das
duas audiências públicas. Na segunda, fui o único representante da sociedade
civil a se pronunciar, ocasião em que deixei bem claro as mazelas sociais e os
impactos ambientais que o empreendimento causaria.
Enquanto o presidente do Consórcio
mentia claramente prometendo estradas vicinais, escolas, creches, cinemas,
teatros, quadras esportivas, delegacias de polícia, quartéis para os militares,
o então senador Edison Lobão, a então deputada federal Terezinha Fernandes, o
prefeito do município e uma cambada de deputados estaduais batiam palmas para
ele.
Terminada a audiência fui ameaçado
por um pequeno grupo de empresários, os quais, diziam que eu havia saído de
Imperatriz para tentar barrar o desenvolvimento do município deles (Estreito).
As ameaças não se tornaram em algo mais grave em face a intervenção de
policiais militares, bem como, do deputado Antonio Pereira, que era meu amigo
desde que morávamos em Açailândia.
Passados os anos, a hidrelétrica
entrou em funcionamento, porém quando a primeira turbina foi ligada, o efeito
causou a morte de cerca de 35 toneladas de peixes das mais diversas espécies.
Foram enterrados com uma escavadeira dado a grande quantidade de peixe. Foi o
maior desastre ambiental registrado em toda a história da bacia
Araguaia/Tocantins.
Convidado pela Comissão de Meio
Ambiente da Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão, por intermédio do
deputado Léo Cunha, fui um dos palestrantes da audiência convocada para debater
o desastre ambiental com o Ibama, os diretores do CESTE e a sociedade
organizada. Todos compareceram. O Consórcio não teve a dignidade de enviar um
representante para a audiência.
Para finalizar, como viajor de
dezenas de anos pelas águas do rio Tocantins, devo informar ao vereador que na
época do inverno, o rio atinge cerca de 14 a 15 metros acima do nível normal. Registra-se
que no ano de 1926 e 1980 o rio atingiu um nível muito superior que vem
apresentando nos últimos anos. A presença das barragens não quer dizer que
essas grandes enchentes não voltem a acontecer.
E a força dessas águas nobre
vereador, quero apenas lhe exemplificar, são muitos fortes. Para se ter uma
ideia, em dezembro do ano passado a força do riacho Santa Teresa rompeu a Rua
Floriano Peixoto em pelo menos dez metros de largura. Agora o senhor já
imaginou a força das águas do rio Tocantins no começo do inverno? Posso lhe
garantir que não há praia que resista.
·
*Domingos Cezar, pescador e
ambientalista, diretor conselheiro e ex-presidente da Fundação Rio Tocantins


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