A
manifestação ou revolta que levou às ruas mais de 30 mil pessoas na
segunda maior cidade do Maranhão é pouco lembrada pelas elites políticas
de Imperatriz e pelos que participaram dela. Triste
constatar ainda: é uma página da história da cidade totalmente
desconhecida pelos mais jovens, aqueles que na época eram crianças ou
que ainda não haviam nascido.
O Movimento de Janeiro de 1995, conhecido como “Revolução de Janeiro”, ou “Revolução Cidadã”, completou no dia 18, sábado, 19 anos.
A
insatisfação das classes pensantes da cidade e depois do próprio povo,
começou em Outubro de 1993, logo após o assassinato do prefeito Renato
Cortez Moreira, o que culminou com a revolta 1 ano e três meses depois.
Salvador Rodrigues |
![]() |
Renato Moreira |
As investigações chegaram à conclusão que aconteceu um "consórcio" para a eliminação do prefeito, complô liderado por pessoas próximas de Renato,
entre elas o vice-prefeito Salvador Rodrigues, que foi chorar no
velório, mas logo assumiu a cadeira do morto. Salvador chegou a ser
preso, mas foi solto depois, ficando a revolta da população que se
agravou logo em seguida com seu péssimo desempenho à frente da
municipalidade.
A
polícia federal concluiu as investigações constatando que Renato já era
um refém de uma verdadeira quadrilha, desde a sua eleição, desvios de
recursos aconteceram durante sua administração e depois dela com a
ascensão do vice Salvador Rodrigues.

O movimento começou
com as discussões de um grupo denominado Movimento Fagulha, composto
pela professora Conceição Formiga, este jornalista, Valter Rocha, José
Cortez Moreira, o "Moreirinha", e os vereadores Valdinar Barros e
Simplício Zuza Neto, entre outros.
Por sua vez, o
advogado Ulisses Azevedo Braga criava o Fórum da Sociedade Civil
Organizada, juntamente com empresários, advogados e outros
representantes de classes.
Os serviços
públicos desativados, salários do funcionalismo atrasados e, finalmente ,
a paralisação do recolhimento do lixo, tornaram a situação
insustentável, Salvador estava com seus dias contados na cadeira de
prefeito que havia usurpado.
A revolta explodiu
numa grande manifestação que parou a cidade, depois que seus
organizadores juntaram o Movimento Fagulha com o Fórum, ficando a
entidade com este segundo nome e suas lideranças conseguiram convencer a
maioria da imprensa, as entidades de classe, partidos políticos (mesmo
mantidos à distancia) e a população, que veio como numa onda
avassaladora, pacífica, mas disposta à luta, caso houvesse uma reação
para manter no governo um (vice) prefeito corrupto e incompetente que
havia participado de uma trama para matar o prefeito Renato Moreira.
A
manifestação que levou às ruas mais de 30 mil pessoas na segunda maior
cidade do Maranhão é pouco lembrada pelas elites políticas de Imperatriz
e pelos que participaram dela.
Triste constatar
ainda: é uma página da história da cidade totalmente desconhecida pelos
mais jovens, aqueles que na época eram crianças ou que ainda não haviam
nascido.
Só para se ter uma
idéia, um jovem de 20 anos, hoje na universidade, naquela ocasião tinha
apenas três anos de idade. Como ele poderá saber desse momento histórico
se não lhe for contado? Se não lembramos sequer da nossa história, o
que será de nós?
A
“Revolução de Janeiro” não deveria ser esquecida, pois ela representa
um marco na história da cidade, o fim de uma era de desmandos
administrativos, o afastamento do cenário político de um grupo que
manipulava os mais pobres e governava apoiando-se na violência e no
crime organizado.
Mesmo com a
desonestidade ou esperteza de alguns, depois do movimento de Janeiro a
cidade não foi mais a mesma, os governantes agiram com mais pudor ou
cuidado no trato com a administração. E o mais interessante: a população
descobriu que pode se levantar e tirar na marra quem usurpa o poder ou
que assalta os cofres públicos não cuidando sequer dos serviços básicos
do município.
O legado do
Movimento de Janeiro é de extrema importância para as novas gerações,
quando vivemos um momento em que cada vez mais se exercita a democracia
no país e se estimula a cidadania e a participação de todos nos destinos
da nação, do estado, da cidade, do lugar em que vivemos.
Não podemos
esquecer das lideranças desse movimento - apesar que algumas delas
depois foram participar do governo da intervenção e não se saíram muito
bem no campo ético – que se arriscaram enfrentando ameaças de toda
sorte e saíram para o convencimento popular em favor da revolta.
O líder Ulisses Braga
Precisamos lembrar o líder do Movimento de Janeiro, o advogado Ulisses Azevedo Braga, falecido dia 30 de Janeiro 2011.
Um
homem de bem que depois em idade avançada resolveu voltar para sua
cidade, Carolina, onde findou os seus dias militando na defesa do meio
ambiente e voltado para suas reflexões espirituais.
Outro líder do Movimento de Janeiro que já nos deixou foi o empresário Licínio da Rocha Cortez, falecido dia 24/08/2012.
Licínio Cortez |
Licínio,
uma espécie de mecenas da cidadania, foi um dos primeiros a abraçar a
causa do movimento, antes e depois praticamente sustentou com recursos
próprios o Fórum da Cidadania, cedendo uma sala em cima da sede da Varig
- onde hoje funciona a agência de viagens Vôo Livre -, angariando
recursos com amigos em prol da causa.
Outros
líderes ou integrantes do movimento que também já partiram desta vida
foram: o advogado Valdecy Rocha, vereador Simplício Zuza Neto, agrônomo
José Cortez Moreira "Moreirinha" e o poeta Valter Rocha.
Para que o movimento de janeiro de 1995 não seja apagado totalmente da memória da cidade, proponho:
Um projeto - que enviarei como cidadão ao Poder Executivo ou à Câmara Municipal de Imperatriz -,
propondo que o dia 18 de Janeiro seja todos os anos lembrado pela
municipalidade, além de criar uma placa a ser colocada na entrada da
prefeitura de Imperatriz lembrando a data, assim como consta lá no
palácio municipal uma placa colocada pelo interventor Dorian Menezes
quando vereadores de Imperatriz tentaram tomar a prefeitura, um ano após
a intervenção.
Proponho
ainda ao prefeito Sebastião Madeira que (in)memorian, seja concedido
este ano por ocasião do aniversário de Imperatriz, a comenda Frei Manoel
Procópio ao líder Ulisses Azevedo Braga. O empresário Licínio Cortez,
ainda em vida foi homenageado mas por motivos pessoais que não cabe aqui
relatar, recusou a honraria. Em outras datas vindouras outros membros vivos ou mortos do movimento poderão ser homenageados.
A quem interessar possa:
Se
encontra em meu poder um grande acervo histórico do Movimento de
Janeiro - em fotos, áudio, vídeo e recortes de jornais - a mim confiado
pelo saudoso Ulisses Braga, além de outros documentos históricos
juntados por mim durante esses anos.
Esse acervo não me pertence, é da cidade de Imperatriz. Estarei em breve criando o Núcleo da Memória Política de Imperatriz e do Maranhão do Sul, entidade que deverá reunir esses e outros documentos históricos que por acaso sejam reunidos daqui pra frente, editando livros, biografias etc. (clic nas fotos para melhor visualização).
3 comentários:
Não conhecia esse movimento de 1995. Obrigada por compartilhar conosco desse rico acervo político e cultural.
Boa noite companheiro, ótima idéia, e saldável, poderia divulgar os nomes para que apopulação de Imperatriz conhecesse seus heróis de 1995. ah! você que sempre foi imparcial e tem os arquivos poderá contribuir com um relato coerente e verdadeiro dando valor a quem lutou por Imperatriz.
IDÉIA EXCELENTE! DIVULGUE AS FOTOS E OS NOMES DAS PESSOAS HOMENS E MULHERES QUE NOS AJUDARAM VOCÊ FARÁ JUSTIÇA HISTÓRICA AOS QUE SE ARRISCARAM POR NOSSA CIDADE! JOEDER DE OLIVEIRA
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